Adilson Batista foi apresentado no dia 18 de julho no São Paulo. Prestes a completr três meses, foi demitido após a derrota por 3 a 0 para o Atlético-GO, em Goiânia (Foto: Rubens Chiri / Site oficial do São Paulo FC)
Desde o dia em que sua contratação foi anunciada, treinador conviveu com as críticas das arquibancas. Em campo, não conseguiu dar padrão ao time
Após três trabalhos em menos de um ano (Corinthians, Santos e Atlético-PR), Adilson Batista chegou ao São Paulo sabendo que precisaria de cara mostrar serviço para acalmar a fúria da torcida, que não gostou nem um pouco de sua contratação para substituir Paulo César Carpegiani. Na chegada, dizia que o novo clube seria ideal para dar um novo rumo para sua carreira. A amostra inicial de que seria difícil ter o apoio das arquibancadas ocorreu no dia 22 de julho, quando ele estreou contra o Atlético-GO, no Morumbi, e foi muito vaiado após o empate por 2 a 2.
Para ter sucesso, Adilson fez de tudo. Primeiro, se instalou no CT da Barra Funda para vivenciar o São Paulo por 24 horas. Sem medo de ser rotulado pela torcida, participava de tudo. Além do trabalho dentro de campo, conversava frequentemente com médicos e preparadores para saber com quais jogadores poderia contar. Junto com a equipe de vídeo, montava o material dos adversários e, na véspera de cada partida, fazia questão de atrasar o treino para mostrar os dados aos atletas.
Metódico, fazia questão de dar um treino fechado antes de todos os jogos. Obcecado por tática, dispensava os coletivos por acreditar que os treinos de posicionamento e toques curtos eram mais úteis. A imprensa não viu nenhum coletivo sob seu comando.
Os jogos foram passando, e a paciência do torcedor foi ficando ainda menor. Prejudicado por lesões, suspensões e convocações para o mundial sub-20 e para a Seleção Brasileira principal, ele só conseguiu repetir a escalação em duas das 22 partidas que comandou o Tricolor. Foi obrigado a conviver o tempo todo com a pressão da galera para que escalasse o veterano Rivaldo.
Após vencer o Bahia por 3 a 0, no dia 4 de agosto, só comemoraria nova vitória no Morumbi um mês depois, no dia 7 de setembro, contra o Atlético-MG, quando Rogério Ceni completou o seu milésimo jogo. Nesse intervalo, foram realizados três jogos, com dois empates e uma derrota. Na vitória sobre o Galo, Dagoberto, que marcou o segundo gol, fez questão de comemorar com o treinador, como uma forma de mostrar que, se o apoio não vinha das arquibancadas, o grupo estava fechado com Adilson Batista.
O treinador e a torcida acharam que as coisas iriam melhorar a partir do momento em que Luis Fabiano estivesse à disposição. Mas foi exatamente o Fabuloso que provocou o momento de maior stress entre as partes. Quando ele foi sacado na derrota por 2 a 1 para o Flamengo, os 63 mil são-paulinos ficaram indignados quando o treinador colocou o volante Carlinhos Paraíba. E foi exatamente o meio-campista quem marcou o gol contra que ocasionou o tropeço.
O presidente Juvenal Juvêncio ainda tentou dar uma última cartada, aparecendo para conversar com os jornalistas e mostrar que apoiava Adilson. No entanto, o empate por 0 a 0 com o Internacional foi uma espécie de aviso prévio para o treinador, que novamente foi muito xingado de burro: ou o time reagia contra o Atlético-GO ou poderia haver uma mudança no comando. E os 3 a 0 aplicados pelo Dragão acabaram sendo fatais para o treinador, dispensado ainda no vestiário.
Abatido, ele não quis responder às perguntas dos jornalistas. Apenas fez um pronunciamento.
- Gostaria de agradecer pela possibilidade de trabalhar, de poder me dedicar. Para mim era como se tivesse uma oportunidade na Seleção Brasileira pela grandeza, estrutura, pela condição de trabalho, pela lealdade das pessoas que dirigem o clube e pela dedicação dos atletas. Mas futebol é resultado. O segundo turno não tem sido dos melhores. Peguei o time em segundo e hoje estou entregando em sexto. Peço desculpa, compreendo o momento de chateação e revolta. Saio para que o clube tenha tranquilidade e volte com o ambiente favorável - afirmou o treinador.
Na sequência, se retirou para o vestiário. Emocionado, conversou com alguns atletas e seguiu para o ônibus. Mesmo demitido, ainda conviveu com a fúria da torcida, que o chamou de burro quando percebeu que ele havia deixado o vestiário. Sem saber que ele já não era mais o técnico do São Paulo.
Por Marcelo Prado
Direto de Goiânia, GO
G1
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